sexta-feira, 22 de abril de 2016

Crônica A MENINA DO SEMÁFORO

A Menina Do Semáforo
Durante certo tempo, todas as vezes que passava naquela rua, sempre parava no mesmo semáforo, eu não podia deixar de perceber uma menina, na verdade, uma indiazinha que ficava por ali, acompanhada de sua mãe e seus irmãos. Quando o sol estava favorável ficavam brincando no canteiro entre a avenida e quando o sol mirava o meio-dia se protegiam na calçada embaixo de uma árvore, cada vez que acendia a luz vermelha do sinal, jogava os pedaços das bonecas e corria para os carros, pedindo uns trocadinhos.
A mãe acompanhava de longe como quem ensina um ofício valoroso, afinal, estão ali para ganhar o pão de cada dia, pois em uma tribo indígena esta é a função da mulher e das crianças. Logo, pela manhã lá está ela, com os pés no chão, na maioria das vezes, de saia sem blusa, cabelos soltos, pois a cidade dá esta possibilidade, viver quase como se vivesse numa floresta. Assim pronta para o trabalho, sem esquecer o sorriso de agradecimento, quando seu pedido é atendido. Sempre que passava por ali, a cena era sempre a mesma.
Um dia, porém, percebi o sinal vazio, não tinha ninguém, a indiazinha havia sumido. Fui embora pensando naquele sorriso e o que poderia ter acontecido à aquela inocente criatura. No caminho imaginei as piores coisas, que algum ser sem alma poderia ter judiado, se aproveitado e matado a pobre menina, no entanto, pensei também, quem sabe alguma alma boa destas organizações que existem por aí, tenha resgatado a indiazinha e sua família e levado de volta para alguma floresta para uma vida mais digna.
Depois de alguns dias, passando pelo portão de uma escola pública notei uma menina se agarrando à roupa de sua mãe e chorava inconsoladamente, parei para ver o que estava acontecendo, grande foi minha surpresa quando vi que era a indiazinha, algumas pessoas tentavam convencê-la a entrar na escola, já estava de cabelo preso e uniforme, calça, camiseta e tênis, provavelmente, tudo doado pela boa alma da instituição. Porém, era inútil, ela esperneava e chorava, mesmo assim, acabou entrando quando alguém teve a brilhante ideia de que a mãe entrasse com ela. Tudo resolvido, entrei no carro e fui embora.
No caminho pensei, ainda bem que de tudo que pensei, o que aconteceu foi a melhor das opções, ela encontrou uma alma boa que a conduziu para à dignidade! Será? 
Um tempo depois, passando pela escola vi a menina saindo, simplesmente a menina do semáforo, porque a indiazinha, esta não existe mais.

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