A
Espera
Um dia desses, li uma
notícia na internet sobre imigrantes haitianos no Brasil, a notícia dizia que “existem
haitianos que estão sendo tratados como escravos no Brasil”. Confesso que não
dei muita atenção à notícia e, simplesmente, rolei a página pensando que não me
interessava uma notícia tão absurda, tão distante. Hoje, porém, retomo o assunto com indignação por meu próprio egoísmo, envergonhada por minha
mesquinhez.
Ao sair à rua para
algumas obrigações no centro da cidade, uma cena me chamou a atenção quando
parei no sinal vermelho, dois rapazes de pele escura, mas tão escura que
brilhava num tom azulado e, com isso, destacava o branco dos dentes e o largo
sorriso, sentados na calçada conversavam animados como alguém que espera uma
boa notícia. Pensei no que esperavam! Família? Amigos? Não! Pois, provavelmente,
eram estrangeiros, pois, estavam alheios a tudo que se passava ao seu redor. De
repente, um dos rapazes se levantou e, em seguida, o outro, com a intenção de alongar a
coluna, pois, aparentemente, estavam sentados ali por horas, foi quando percebi
uma mochila para cada um, então, cheguei a conclusão que esperavam algum
empregador que, com certeza, viria buscá-los a qualquer momento.
Quando o sinal abriu
fui aos meus afazeres e não pensei mais naquela cena. Horas se passaram, cumpri
minhas obrigações; fiz uma parada para um café na lanchonete; passei numa loja
para ver a atendente que, por certo, é minha parenta; demorei olhando algumas
vitrines e só corri para o carro quando percebi uma chuva chegando que, acabou
apenas em uma ventania. No caminho de volta, logo que virei a esquina percebi a
mesma cena anterior, no entanto, minha parada foi frente aos dois, e
continuavam a mesma conversa animada e alegre, mas, eu não compreendi nenhuma
frase que diziam, com isso tive a certeza que eram estrangeiros.
Imaginei-me por um
instante numa terra estranha, sem amigos à espera de uma promessa, por sabe
Deus, quantas horas! Uma angústia apertou-me o peito, olhei para os jovens e me
senti inútil, pois, não era capaz nem de compreender suas palavras, imagina
ajudá-los! Nisso, nosso olhar se encontrou e pude perceber seu olhar triste e
perdido, porém, cheio de esperança, só então, compreendi que o que esperavam
não era família, não era amigos, não era o empregador, mas sim, uma pátria que
os aceitassem como filhos.
Por Luciana
Leopoldino